António Ventura, enólogo e presidente da Associação Portuguesa de Enologia
1. Portugal possui uma enorme diversidade de micro-climas, fruto da sua variada orografia, solos, especificidades climatéricas e outras, que constituem uma imensa riqueza, pois possibilitam a obtenção de uma grande variedade e estilos de vinhos.
Naturalmente cada região vitícola portuguesa contém em si mesma muito desta riqueza de estilos e diferentes “terroirs” sendo que mais a norte e centro encontramos vinhos normalmente de acidez mais vincada e acentuada frescura e mais a sul vinhos mais redondos e normalmente mais ricos em álcool.
António Ventura, enólogo e presidente da Associação Portuguesa de Enologia.
2. Todas as regiões vitícolas portuguesas tiveram na ultima década um enorme crescimento qualitativo, fruto de um trabalho conjunto de investidores, viticultores e enólogosque conjugou a enorme “revolução tecnológica” das adegas com a profunda remodelação dos vinhedos,onde a implantação de castas portuguesas ou ibéricas de elevado nível qualitativo e geneticamente melhoradas, possibilitaram um enorme incremento da qualidade das uvas produzidas e por consequência dos vinhos obtidos.
Existe no entanto em nossa opinião ainda muito espaço para crescer qualitativamente e este “salto qualitativo” a meu ver terá que ser conseguido mais no vinhedo que na adega, sendo necessário melhorar ainda mais as práticas vitícolas e fortalecendo as parcerias entre a produção e a investigação, trazendo cada vez mais para o campo os investigadores de grande valia que nesta área Portugal possui.
Não poderemos nunca esquecer que temos um importante património genético, muitas vezes partilhado com a nossa vizinha Espanha e que com estudo aprofundado poderá trazer muito valor acrescentado á “comunidade vitivinícola”. Será assim determinante que os fundos governamentais e europeus de apoio ás equipas de investigação que vem fazendo um trabalho deveras meritório não sejam nunca escassos por forma a permitir a continuidade com a qualidade e excelência reconhecida.
3. A tão necessária inovação na “fileira vitivinícola” não poderá nunca passar pelo olvidar das tradições seculares, ou não fosse o vinho ele próprio um veículo aglutinador de culturas diversas que em épocas diferentes estiveram instaladas ou de passagem pela península ibérica.
Em nossa opinião técnicas de vinificação ancestrais como a pisa apé nos tradicionais lagares de pedra ou os vinhos fermentados em talhas de barro seculares, podem conviver perfeitamente com as mais modernas tecnologias, podendo inclusivamente existir muitas vezes uma conjugação entre elas com obtenção de vinhos diferenciadores, que cada vez mais são mais apreciados em variados mercados externos.
Assim a inovação sem esquecer a tradição, apesar da aparente contradição é a meu ver o melhor caminho a seguir.
4. O crescimento das exportações dos vinhos portugueses, apesar da crise económica e social profunda de Angola e Brasil é bem demonstrativo da capacidade inovadora e inventiva que o sector continua a abraçar, mas também certamente do excelente “value for money” que hoje unânimemente é reconhecido aos vinhos de Portugal.
Continuar a crescer sustentadamente em mercados diversificados não é o único desafio que teremos que enfrentar, existem muitos outros e um dos mais importantes será decerto a capacidade de acrescentar valor ao vinho português e sedimentar o seu posicionamento nos mercados mais evoluídos , sobretudo Estados Unidos, Canadá e alguns países asiáticos nomeadamente o Japão e a Coreia do Sul.